O sistema energético atravessa atualmente um profundo e dinâmico processo de transformação que pode resultar num sistema não apenas 100% renovável, mas também numa rede mais inteligente e um modelo energético mais aberto e horizontal. No entanto, este processo é complexo e pode ser considerado sob diversos pontos de vista.
De um ponto de vista tecnológico, a conversão das redes tradicionais em redes inteligentes, catalizadas pela crescente descentralização, digitalização e tecnologias de comunicação e informação, origina novas e inovadoras funcionalidades tais como flexibilidade, gestão de consumo e inteligência distribuída e ainda, integração de mais produção distribuída. Novas arquiteturas, tais como microredes, agregadores ou sistemas autónomos insulares trazem novas dinâmicas de operação, mas também novos desafios. De um ponto de vista organizacional, cooperativas de energias renováveis, cidades, bairros, aldeias ou municípios assumem-se como atores capazes de colocar a agenda da democracia energética no centro da atual transição energética e empurrar o sistema elétrico para um modelo mais participado e horizontal. A par com tudo isto, a recente aprovação, a nível europeu, das Diretivas das Energias Renováveis e do Mercado Interno de Eletricidade será, em breve, o mote para mudanças legislativas ao nível do Estados-membros, isto conjugado com a nova obrigação de elaboração dos Planos Nacionais de Energia e Clima.
Neste caldeirão de transformações, surgem as Comunidades de Energia Renovável, um modelo de gestão e organização que visa permitir, não apenas o uso coletivo de sistemas de produção e armazenamento, mas colocar a sua gestão nas mãos das comunidades e dos cidadãos. Espera-se então que, em breve, seja possível que cooperativas de energia ou municípios possam gerir microredes urbanas, que conjuntos de habitações ou edifícios possam instalar e partilhar sistemas fotovoltaicos para auto-consumo coletivo ou que prosumers de energia renováveis possam comunicar entre si de forma a partilhar, vender e comprar diretamente o seu excesso de produção renovável.
Inevitavelmente, a distância entre as potencialidades e a realidade é, ainda demasiado grande. Embora estejam a surgir projetos piloto, de natureza empresarial, académica ou através de iniciativas locais, o modelo das comunidades energéticas sofre de uma forte falta de visibilidade, de pouca credibilidade e de inúmeras barreiras legislativas, técnicas e económicas que importa remover. É neste contexto que no dia 9 de Outubro o Pavilhão do Conhecimento será palco da Conferência Comunidades de Energia, a conferência internacional que tornará Lisboa o epicentro do debate sobre comunidades energéticas especialmente direcionado aos agentes do setor energético (empresas, operadores de rede, agências de energia), decisores políticos e investigadores, jornalistas e ONG’s. Durante um dia terão lugar sessões sobre as futuras mudanças legislativas, mesas redondas sobre tecnologias que potenciam as comunidades energéticas mas também a apresentações e demonstrações de projetos de sucesso em curso em Portugal e no mundo.